Goodgame Empire

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sábado, julho 14

Um Manual de Escrita?

I – A Arte da Escrita

Cada um tem o seu método, obviamente. No entanto, qualquer escritor lhe dirá que há coisas essenciais para se poder escrever e, neste caso, escrever bem – pois, na verdade, é isso que buscamos e pretendemos alcançar, nós os escritores evidentemente. Claro que, nem todos conseguiremos atingir o nível soberbo de um Ernest Hemingway ou de um Luís de Camões, e provavelmente nunca atingiremos, pois há escritores que são realmente únicos e mestres na sua própria visão da arte da escrita.

II – Caixa de Ferramentas

É relativamente difícil escrever um manual de escrita para todos os escritores, pois em parte penso que cada um tem que encontrar o seu caminho, o seu método, o seu estilo de escrita. Mas isso não chega infelizmente. Stephen King fala de uma certa caixa de ferramentas que contém todo o nosso conhecimento de escrita: o vocabulário, a gramática e os elementos de estilo. Ora bem, Stephen King, o mestre do terror e do suspense, toma uma posição bastante radical quanto à escrita – para ele – se uma pessoa abrir essa caixa de ferramentas e não encontrar ferramenta certa para o objecto que pretende construir, nunca será um grande construtor. Por outras palavras, para King as três ferramentas base de escrita são o vocabulário, a gramática e os elementos de estilo, logo se um desses faltar, o escritor nunca será bom, ou mesmo competente, será um escritor mau e, adicionalmente, será um escritor mau sempre!
Ora, eu não me chamo Stephen King, nem sou um escritor, nem tenho os mesmo conhecimentos que o Sr. King, mas não deixo de temer que ele tenha razão no que diz... porém, sou optimista e não partilho da mesma opinião no que diz respeito ao escritor que será mau para sempre, caso não tenha uma das ferramentas essenciais. Felizmente o ser humano, tem um cérebro que lhe permite apreender conhecimentos novos, que lhe permite aperfeiçoar-se e racionalizar. Mas posso estar enganado, a minha experiência e contacto com a escrita são rídiculas comparadas com a de um professor catedrático e um escritor conceituado, mas permito-me a audácia de discordar mesmo assim.

III – Escrever ou ler?

O facto é que para se escrever bem, tem que se estudar muito, aprender muito, trabalhar muito, escrever muito e ler muito. Ser uma sanguesuga do conhecimento e da prática, absorvendo tudo de bom e de mau, para se poder e saber quando comparar, melhorar ou descartar. Pessoalmente, perdi bastante o interesse na leitura, perdi também tempo para a leitura, talvez precisasse de “comprar tempo para ler” tal como na curta-metragem, mas isso não é possível, portanto eu tento compensar esta falta com a escrita, que me dá muito mais prazer. A criação de histórias é fenomenal, porque escrevemos sempre algo que gostamos, algo que não vemos nos outros livros que lemos, algo de novo e, no meu caso, sinto-me sempre como o leitor e o escritor quando escrevo uma história, pois adoro histórias de terror, suspense, mistério, fantásticas! Adoro não saber o que vai acontecer na próxima linha ou no parágrafo seguinte, cada personagem que crio é uma parte de mim que age de forma independente e isto torna as coisas muito interessantes para quem lê ou pelo menos para mim.
Porém, há quem diga que não se deve começar a escrever sem se saber onde a história vai parar. Ora, eu reconheço que este é o método mais seguro e que deve ser o caminho a seguir ou pelo menos o caminho que a maioria dos escritores segue. Só que para mim, começar uma história já sabendo o fim ou tendo um objectivo mais ou menos claro, tira-me o prazer da escrita, pois deixo de ser o primeiro leitor da história, passo a saber o que vai acontecer a seguir e isso tira-me o prazer todo.
O que quero dizer com isto é que devemos escrever sempre algo que nos dá prazer, mesmo que esse prazer nos dê muito trabalho, a recompensa é sempre maior que o trabalho.

IV – O Ambiente

Há quem pense que o ambiente tem pouca influência na escrita ou nos escritores, ora essas pessoas estão redondamente enganadas. Um bom ambiente influência em grande parte o fluir das ideias e, por vezes, é o ambiente que nos prende e mantém a escrever, pois ajuda-nos a visualizar tudo o que escrevemos, a entrar no mundo que estamos a criar. Obviamente, cada pessoa tem o seu método de concentração e escreve melhor num tipo de ambientes do que noutros. Há quem goste de ter barulho à sua volta, há quem goste de ter a música aos berros, há quem goste de muita ou pouca luz, portanto, neste caso, cada um tem que encontrar o método que mais lhe satisfaz. Para King, um quarto com a porta fechada num ambiente calmo e a ouvir Hard Rock funciona às mil maravilhas. Para mim, um quarto com um ambiente calmo e músicas que tenham ou provoquem a mesma carga emocional que a história pretende transmitir, concentram-me passado cinco ou dez minutos e, a partir daí, já saí do quarto e já estou noutro lugar, já estou na “Twilight Zone” como se costuma dizer. Bem, nesse momento as palavras fluem mais devagar que o pensamento e as teclas que primo ou as palavras que escrevo parecem ter voz própria. É quase como se estivesse sob o efeito de drogas ou álcool.

V – Descrições

Infelizmente, quando escrevo algo que não me dá muito prazer, tendo a desleixar-me e a escrever mecânicamente. As descrições, para mim são o momento mais difícil da escrita, pois é algo que muitas vezes trava a acção e que exige uma visualização mental profunda. As descrições que faço normalmente faço-as para o leitor, não para mim, pois eu estou a ver, a ouvir, a sentir, a saborear e a cheirar exactamente o que quero na minha cabeça. Mas se o leitor não conseguir sentir o que eu sinto, receio que perderá o interesse. Então procuro agradar o leitor nos momentos descritivos, desde que as descrições sejam relevantes obviamente, pois descrições ínfimas de detalhes que pouco ou nada têm a ver com a história são inúteis e aborrecidas. Em todo o caso, é preciso ter muito cuidado com a escolha de palavras. As repetições, o uso excessivo de advérbios e adjectivos, as palavras complicadas etc., são problemas que podem surgir com muita facilidade em textos muito descritivos e quando isso acontece... bem você já sabe, seleccione tudo, carregue onde diz “Delete” e... tente de novo. Procure fazer descrições activas, isto é, não pare tudo de repente e comece a descrever como um louco cada detalhe do ambiente, em vez disso tente avançar na história descrevendo o que se está a passar ou então faça como Hemingway que pouco descreve, deixando o resto para o leitor preencher, mas cuidado...

VI – A Voz Passiva

Stephen King escreveu algo muito interessante sobre o uso da voz passiva. De facto, a voz passiva parece quase sempre artificial e muito aborrecida de se ler, pois complica toda a frase e frase perde conseguintemente toda a intensidade. E ainda, segundo King, o uso da voz passiva muitas vezes surge por medo de não estar a escrever bem ou indecisão, medo de dizer “Eu matei o João” em vez de “O João foi morto por mim.” É preciso convicção no que se diz e, recorrer constantemente à voz passiva, pode ser a morte do artista e eu concordo plenamente com Stephen King.

VII – Conclusão

Conclusivamente, penso que como escritor aprendiz, nunca me senti tão elucidado, em relação à escrita, como quando li este manual de escrita fabuloso de Stephen King. Nunca tinha lido algo do género e considero que é algo que deve ser lido por qualquer escritor ou qualquer pessoa que tenha interesse em escrever e, neste caso, escrever bem. Parabéns Sr. King.


p.s.: Written by Luciano Neves for Creative Writing
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